Tuesday, June 25, 2013

"Primavera Tropical" no Inverno Brasileiro
O despertar da sociedade brasileira para os direitos civis entre eles o de ursufruir de serviços públicos a partir do pagamento de impostos me trouxe de volta a este espaço livre de compartilhamento de idéias. Uma coisa que me atraí muito é o conceito de transparência nas instituições. Deve ser porque aqui no Brasil o oposto é forte na cultura. As pessoas tem uma espécie de vergonha de perguntar. Há uma preferência pela aparência que nem sempre corresponde a realidade das coisas. O impressionante é como isto impregna a moral e até a interpretação da lei que é muito detalhista mas pouco aplicada.
Neste tempo de manifestações, estou tentando entender a cabeça das pessoas. Quando estou nos EUA, por exemplo, vejo a lei ser aplicada igualmente a todos, seja um estudante universitário de bicicleta ou uma atriz famosa de carrão. Por lá, as pessoas tem uma noção precisa do que a lei manda e quando a lei foi quebrada. E quem não cumpre a lei vai para a cadeia na hora.  
"Bandido tem que ir para a cadeia!" é uma das frases que tem sido muito usada nestes dias de protesto  por cidadãos das comunidades, aparentemente sem muita educação formal e por cidadãos  da classe média aparentemente educados, por pobres e ricos, por cristãos e não-cristãos. Então, parece que todos concordam. Agora só falta identificar os bandidos: No.1 adolescentes  vândalos no.2: traficantes de drogas da classe média no.3 bicheiros que mantém bancas nas esquinas da cidade, no.4 estelionatários, ladrões e outros criminosos que moram nos condomínios, citando indivíduos próximos a minha realidade. Não tenho acesso a conta do Maluf para dizer se ele é ladrão mesmo, nem a da Ivete Sangalo para dizer se ela aceitou 600 mil reais para cantar na inauguração de um hospital publico, não estava no aeroporto quando pegaram o político com dinheiro na cueca, nem quando o turista burlou os fiscais no aeroporto, assim não posso colocar nenhum deles na lista.  Fica a minha sugestão de alguns meliantes para meus amigos do face que acham que bandido tem que ir para a cadeia completarem. Na verdade não ousei colocar este post no facebook porque sei que o brasileiro não é acostumado a ser confrontado como acontece na cultura americana. Seria muito difícil para um brasileiro trabalhar no CSY ou no hospital da série Grey's Anatomy porque quem presta atenção aos programas vê que o modo do americano trabalhar é bem direto. Tanto os técnicos e policiais quanto os médicos e pacientes dialogam com lógica e verdade sem que ninguém se milindre.
Aqui temos o mito do país "cordial" que na verdade remete a uma sociedade medrosa, não confrontativa, que ri mesmo quando está descrevendo uma coisa triste e que diz na televisão que vai mandar o bandido para a cadeia mas que omitea palavra TODO.
É esse o Brasil que eu quero ver. Um país onde TODO BANDIDO tem que ir para a cadeia.

Monday, February 25, 2013

Aprender inglês é mais fácil do que aprender corte e costura

O dinheiro não compra um Oscar, nem uma medalha olímpica e também não compra o poder de falar linguas estrangeiras num passe de mágica. Tem que estudar mesmo, assim como um atleta tem que treinar para ganhar medalha.
Até a modelo que usa soutien de brilhantes vai ter que estudar se não quiser continuar falando inglês tipo português de Luis Inácio.
Ah, e mais um detalhe falar errado cheia de confiança e pose ainda soa errado. Ser simpático não conserta os erros. Ter residência em NY não equivale a falar inglês bem.
Quem não sabe que falar inglês não é nada disso acima, provavelmente fala um inglês quebrado. Erros de pronúncia, acentuação e concordância soam tão mal em inglês quanto nóis vai, pobrema e montonha em português.
No Brasil, um português defeituoso é aceito em todas as camadas da sociedade até na presidência. Nos países de língua inglesa falar errado é inaceitável, as pessoas simplesmente não conseguem entender um discurso fora da norma. Para um americano, falar errado equivale a ter uma defíciência mental ou educacional; é inadimissível, estranho.
A criança aprende desde pequena a se comunicar bem, a saber o significado das palavras. A falar diante de um grupo. Existem competições para soletrar e debater.  O estudo do inglês é incluído em todos os cursos. Os universitários tem aula de retórica e de como falar em público.
Às portas da Copa e das Olimpíadas, o Brasil está tentando estabelecer sua vocação para o turismo e para tal, falar inglês é imprescindível. Mas vamos começar pelo começo aprendendo de uma vez por todas a diferença entre guia turístico (o livro) e guia de turismo (a pessoa).
Acho que está na hora de fazer uma musiquinha para a campanha na tv depois da do xixi. Lá,lá,lá,lá,lá o guia de turismo vai nos guiar....       

Sunday, February 24, 2013

Hot dog sem maionese


Alguns anos atrás, acompanhei um grupo de estudantes numa visita aos EUA. Toda vez que íamos comer um deles pedia que eu traduzisse "sem cebola". O rapaz se achava descolado e me deu muito trabalho, mas não conseguia aprender a dizer "no onions" para explicar sua preferência numa situação real.
Quando estava na Croácia me incomodava muito o fato de não entender os sons que saiam da boca das pessoas. Dois seres da mesma espécie deveriam poder se comunicar, por isso a barreira linguística causava um incômodo psicológico diante da impossibilidade.
Acho que não há quem não saiba o que é um hot-dog. Mas, aquele primeiro lanchinho em NY pode ser o estraga prazer linguístico que você não esperava, afinal você evoluiu tanto que está no exterior e o vendedor atrás do balcão se parece com o rapaz da padaria da esquina de casa, mas basta que ele se volte para você e diga onionscoleslawredpepperrelishpickles para que você imediatamente descubra que existem mais 5 palavras relacionadas com rotidógui que podem incrementar seu sanduiche.
Na cena, em um comercial de curso de inglês, o subtítulo traduz o meu condimento predileto - relish como vinagrete. Quem fizer inglês ali vai ter a decepção extra de descobrir que relish é uma conserva adocicada feita com pepinos totalmente diferente do vinagrete de tomate, pimentão e cebola do churrasco brasileiro.
Eu sei, eu sei, é difícil ensinar língua estrangeira quando não se sabe a língua nacional ou quando marqueteiros se colocam acima da língua, dos dicionários, da cultura etc.
No meu cachorro-quente também não entra chucrute mas cole slaw é uma saladinha de repolho deliciosa que o aluno vai deixar de provar por causa da tradução errada.
Quem não passou pela experiência em NY basta ligar a tv a cabo e escolher o audio em inglês ao invés de português. Gente como é bom não ter aquelas letrinhas passando na frente da cara do ator! Imagina uma novela com um monte de palavras passando em croata na tela? Não seria irritante? Se você tem que ler, você está perdendo metade do significado. É a risada que acontece depois da cena no cinema ou a risada dada no momento errado por causa da tradução imperfeita.
Citei apenas umas coisinhas para mostrar a importância das Letras. A língua é a base da cultura dentro da qual um povo se desenvolve. Precisa dizer mais alguma coisa? É aceitável um chefe que estado que não sabe falar inglês ou pior ainda não domina a língua do povo que pretende liderar?
Numa das temporadas que passei nos EUA, tinha acabado de chegar do aeroporto e estava zonza e sem vontade de responder às perguntas que os atendentes fazem. Fui comer um sanduiche e o rapaz começou a apresentar uma lista de opções: alface? cebola? milho? etc, etc e eu que não conseguia me concentrar respondi apenas: sem maionese. Estava numa dieta que me proibia maionese mas acabei gostando da resposta e passei a usar a frase " no maionese, please" sempre que tivesse a ver com comida sem importar se estivessem perguntando se era para comer ali ou para levar. O vendedor ficava um pouco confuso mas no final eu acabava recebendo alguma coisa gostosa e acima de tudo...sem maionese.          

cebola chucrute pimenta vinagrete picles

Tuesday, March 20, 2012

Brasil X Austrália

Fui buscar a versão da polícia australiana  sobre a morte de um brasileiro que está sendo discutido na mídia. Achei o press release oficial do departamento de polícia (abaixo) postado 3 horas depois que a polícia foi chamada.
O horário chamou a minha atenção. Tudo aconteceu entre 5:30 e 8:11 da manhã. Na loja de conveniência, alguém chamou a polícia depois que um rapaz apareceu na loja e fez alguma coisa que não devia fazer. Uma patrulha que estava na área respondeu rapidamente. Quando chegaram a loja, o rapaz já havia saído. Os policiais anotaram os dados (homem branco, 20 e poucos anos, sem camisa) e fizeram uma patrulha pela área. Um quilômetro dali viram o rapaz e mandaram parar. O rapaz saiu correndo seguido pelos policiais. Os policiais usaram spray mas ele não parou. Os policiais usaram o taser. O rapaz parou de respirar. Paramédicos foram chamados, mas o rapaz morreu. Em menos de 4 horas terminou o "intercâmbio" do brasileiro na Austrália.
Assim que a notícia chegou do outro lado do mundo, começaram os comentários indignados para livrar o rapaz de qualquer culpa. Lembrei da Rita Lee e seu " é um baseadinho só". Fiquei imaginando a cena na loja de conveniência. É comum estes comércios pertencem a imigrantes asiáticos ou indianos extremamente  dedicados ao trabalho. A loja já estava aberta às 5 da manhã num domingo. Nos países desenvolvidos estas lojas nunca estão cheias porque o atendimento é rápido. Entra um rapaz sem camisa, (algo mal visto e até proibido nos paises desenvolvidos e também no Brasil - tente entrar assim num shopping center). Se entrou ali, queria alguma coisa. Se tentou sair sem pagar ou se respondeu mal quando interrogado já estava errado. Saiu de qualquer modo. O dono da loja liga para a polícia. O rapaz segue despreocupado rua abaixo. Afasta-se 1 km da loja. Já tinha até se esquecido do evento incômodo. Sem remorso. Pegou e pronto, xingou e pronto, saiu e pronto. Que gringo abusado, querer me humilhar, deve ter preconceito contra brasileiro. De repente, o carro da polícia aparece e manda parar. O rapaz leva um susto danado. Se sente encurralado. Tudo isso por causa de um biscoitinho? Será que não sabem que sou rico? Em vez de ficar e explicar sua inocência, o rapaz decide fugir. Nos países desenvolvidos, a polícia é para fazer com que a lei  seja cumprida e os cidadãos obedecem a polícia. Os policiais não sabem que o rapaz é brasileiro. Estão lidando com um indivíduo acusado de roubo, um indivíduo que tenta fugir das conseguências previstas na lei, um indivíduo acima da lei que não obedece a polícia. Os policiais correm atrás e aplicam spray de pimenta. O rapaz continua resistindo, se levanta e corre. Os policiais usam o taser e conseguem pará-lo.
O incidente que poderia ter acontecido na loja de conveniência do posto de gasolina perto da minha casa virou uma briga internacional.
Na loja aqui perto, vejo rapazes de classe média menores pararem o carro para comprar bebida álcoólica. Quando a balconista pede o RG eles ameaçam chamar o pai que é isso ou aquilo. Aqui não adianta a balconista chamar a polícia. No final ela acaba tendo que vender para os "rapazes de família" para não perder o emprego. Os garotos bebem ali mesmo no capô do carro.
Nesta madrugada, também, outro rapaz de 20 anos, filho do homem mais rico do Brasil estraçalhou um ciclista negro pobre com sua ferrari de dois milhões. O pai defendeu o filho como sendo um "cidadão honrado" mesmo sabendo que ele já havia sido multado 51 vezes por estar acima do limite da velocidade e 5 delas enquanto tinha a carteira provisória. Ou seja o bom rapaz só matou um quando podia ter matado mais 50, que para o pai ainda seria um ótimo rapaz. Foi só "um mortinho". O pai ainda acusou o morto de, com seu mal comportamento,  quase ter provocado 3 mortes.
Qual será o final da estória na Austrália? Lá, iniciaram, imediatamente uma investigação onde consta o nome dos policiais e do dono da loja. Encontraram um vídeo com o rapaz correndo da polícia, identificaram que era brasileiro, localizaram a família e o corpo já deve ter sido autopsiado.
No Brasil, o país da cultura da inconsequência, que usa o dinheiro público para lembrar aos promíscuos de fazer o teste de AIDS um mês depois do carnaval, não vai acontecer nada com o rapaz rico assim como nada acontece com os garotos de classe média que compram álcool com o apoio dos pais.      


Sunday, 18 March 2012 08:11:16 AM
A critical incident investigation team has been formed to investigate the death of a man in Sydney’s CBD this morning.
About 5.30am police were called to a convenience store on King Street at The Rocks following reports of a robbery. Police attended the scene; however, the man left prior to their arrival.
Police conducted patrols of the area, locating a man in Pitt Street, Sydney.
During a confrontation, officers deployed OC spray and a Taser.
The man stopped breathing and police began CPR; despite efforts by police and Paramedics the man could not be revived.
A crime scene has been established on Pitt Street between Liverpool and Bathurst Streets.
A critical incident investigation team comprising officers from State Crime Command’s Homicide Squad has been formed to investigate the circumstances surrounding the man’s death.
This investigation will be reviewed by senior officers from the Professional Standards Command.
Anyone with information about this incident, or who may have seen the male in the vicinity of King and Pitt Streets, is urged to contact Crime Stoppers on 1800 333 000.

Thursday, October 20, 2011

SABER ENTRAR E SABER SAIR


A vida em sociedade tem seus rituais e normas de convivência.
É comum ouvir alguém dizer no meio de uma conversa, que fulano “sabe entrar e sabe sair”. O indivíduo pode não ter educação formal, mas consegue entrar e sair dos ambientes sem problemas, porque sabe como se conduzir.
Na abertura dos Jogos Pan-americanos assisti a repetição de uma cena que vi nas Olimpíadas de Atenas. O repórter que narrava a entrada das delegações no estádio não sabia como descrever o comportamento dos atletas brasileiros que insistiam em pular, dançar e brincar de roda enquanto as delegações dos outros países desfilavam. Pura demonstração de que aqueles jovens “não sabem entrar”.
Quando a câmera mostrava a cena, o repórter dizia que estavam brincando ??! Mas, no meio de uma cerimônia de abertura em que todos estão sendo conduzidos aos seus lugares e que cada delegação está tendo a sua vez de ser saudada pelo público, um monte de rapazes e moças começa a pular e a cantar ignorando a cerimônia? Será que os atletas brasileiros queriam transformar a cerimônia num oba-oba geral? Foi mais um exemplo daquela inabilidade de se conduzir. Os atletas entraram no estádio, foram conduzidos aos seus lugares, mas quando deixados sem controle não sabem o que é cabível fazer naquele contexto. Ainda bem que não tinha ninguém sentado atrás deles.
Em Atenas, no ginásio redondo onde aconteciam as partidas de vôlei, eu olhava ao redor e via todo mundo sentado torcendo, com exceção de um ponto da arquibancada onde sempre havia uma embolação de gente que não sentava de modo nenhum e gritava e cantava o tempo todo. Os torcedores que compraram ingresso para sentar acima do grupo não podiam ver nada. O grupo cantava “Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Quando um atleta dava um passe bonito seja de qual time fosse, as pessoas aplaudiam. Os brasileiros só aplaudiam o seu time e vaiavam os adversários. Mostravam que “não sabiam entrar nem sair”.
Saber torcer, cumprimentar, conduzir uma conversa, usar o traje apropriado, se comportar num transporte público, numa mesa são algumas das situações simples onde o indivíduo mostra sua capacidade de se inserir no contexto.
Ainda no Pan, na competição de Tae kwon do, a árbitra teve que mandar a lutadora Rafaela retirar o capacete no final da luta para receber o resultado e cumprimentar a oponente. Na natação, o nadador brasileiro nadou com a touca errada e quase perdeu a medalha de ouro conquistada.
O chapéu é um acessório difícil para o brasileiro. Criado para proteger do sol, no Brasil deveria ser amplamente usado, mas não é o que se vê. Nos países frios, a primeira coisa que o indivíduo aprende é usar a vestimenta correta para proteger o corpo. Na Áustria, o primeiro marco do aprendizado da minha filha no jardim de infância foi aprender a amarrar o cadarço da bota. Depois ela aprendeu a comer numa mesa de restaurante, a fazer silêncio num concerto, a dizer obrigado e a pedir licença.
Na Áustria, se o indivíduo não “sabe entrar nem sair” ele sofre as conseqüências e acaba pressionado pela sociedade até aprender. No Brasil, o resultado mais grave desta inabilidade aparece no trânsito com 60 mil mortes e 400 mil mutilados. O brasileiro tem carro, mas não sabe se conduzir no trânsito. Ele faz fila dupla, anda pelo acostamento, para na faixa, não dá a vez aos pedestres e continua mostrando que não “sabe entrar nem sair”. 

Tuesday, October 18, 2011


DIREITO À BALADA

Quando os Bestie Boys lançaram “(You gotta) fight for your right (to party)” não imaginaram que o Brasil levaria o desafio tão a sério.  

Na luta pelos direitos humanos, os brasileiros conquistaram o direito à balada e no mês de Outubro este direito foi exercido plenamente.

Nas duas primeiras semanas, um festival de rock e um cantor estrangeiro tiraram milhares de jovens e adolescentes das escolas, sem que nem uma só voz da sociedade se levantasse para questionar esse êxodo escolar. Pelo contrário, pais e autoridades foram unânimes em apoiar publicamente o exercício deste direito básico. O jovem tem que se divertir, foi o consenso geral.

Apesar de não estarem acostumados a estudar em tempo integral, os jovens demonstraram grande disposição para enfrentar horas de balada ininterrupta. Pela manhã, a televisão mostrava os baladeiros jogados no chão dos aeroportos, como se as férias de verão já tivessem chegado. 

 Milhares deles passaram noites inteiras de pé, ouvindo músicas sobre o direito à prática da Californication, mesmo que os organizadores do festival tivessem vetado o direito de levar guarda-chuva para se proteger dos rigores do clima no local descampado.

Do outro lado da cidade, milhares de meninas adolescentes e até crianças de 8 anos, passaram horas na frente do hotel do cantor visitante e dias acampadas na fila para entrar no estádio onde ele se apresentaria. As mães sorridentes acamparam junto para garantir que as filhas desfrutassem do direito inalienável à balada. Pela televisão, vi uma psiquiatra explicando como a gritaria, o choro compulsivo e os atos de descontrole emocional dirigidos ao cantor eram bons para as adolescentes. Nenhuma autoridade escolar ou repórter lembrou que no dia seguinte tinha aula. Ficou claro que os que não foram estavam por fora.   

E, quase no final do mês, 800 adolescentes foram localizados numa festa num bairro ermo e distante da cidade. Eles planejavam passar a noite se drogando e consumindo as centenas de litros de bebidas alcoólicas encontradas na casa, mas a polícia invadiu o local, que pertencia a um jogador de futebol e checou a idade de cada um. Só saiu da casa quem o pai ou a mãe veio buscar. Mas muitos pais argumentaram que os filhos só queriam se divertir.     

Nos países onde a escola é o centro da vida dos adolescentes e jovens, existe a expressão “School Night”. É a noite que antecede o dia em que o aluno deverá ter aula. Ele não vai ao cinema naquela noite porque é uma “School Night”. Os pais e as autoridades sabem que para que haja um bom rendimento escolar na manhã seguinte, a preparação tem que começar na noite anterior. Por isso, os sites que vendem ingressos para shows das mesmas bandas que tocaram por aqui, vendem entradas para shows que naqueles países começam entre 7 e 8 horas da noite e não de madrugada nem duram até as cinco da manhã. 

Tuesday, March 8, 2011

Menino ou menina


Quando voltei da última viagem, fiquei sem faxineira. Comecei a ligar para todas as que já trabalharam para mim e só achei a passadeira que foi a única disponível para vir fazer uma faxina. ‘Dona Maysa, tem uma coisa que vou dizer logo para não assustar a senhora....tô grávida’. A única que se dispôs a vir imediatamente está grávida de 6 meses, mesmo assim acabou efetivada no cargo com barriga e tudo.
Na semana passada, ela fez a primeira ultrasonografia, ‘É o que? Outro menino, Dona Maysa.’, Interessante, a primeira coisa que perguntamos antes mesmo que o ser humano desembarque nesta terra, é se é menino ou menina...
Saímos para comprar ‘alguma coisa gostosa’ para nosso carnaval gourmet em casa, quando vi uma miniatura de sandalinha havaiana pendurada na prateleira do supermercado. Comprei logo para o neném.
Alugamos uns filmes e estamos fazendo uma espécie de retiro, eu e meu marido. Dentro de casa, na proteção do condomínio, ouvindo os sons da natureza, tiramos tempo para ler e conversar. Ler as assinaturas, discutir os livros que estamos lendo e ver os assuntos que nos interessam na internet, nos sites e blogs em nossos tablets.
Mostro para Altair a foto que tirei da diarista passando aspirador na cozinha. É o ponto de partida da discussão deste domingo de carnaval. ‘Parece uma porta-bandeira’, rimos, ‘Mas a barriga não combina com rainha de bateria’ Altair conclui. Se não fosse a barriga, a moça de 26 anos e beleza atlética, bem que poderia empunhar uma bandeira de escola de samba, como aquela moça que desfilou com uma saia de penas de faisão de 30 mil reais. Se a saia fosse vendida no ebay daria para comprar 100 unidades do  berço, que minha ajudante ainda não teve dinheiro para comprar.     
O carnaval acende um holofote nas desigualdades da sociedade brasileira. O morador da comunidade precária e o cidadão do ‘asfalto’ (leia-se, os lugares privilegiados com infraestrutura[1]) compartilham a ilusão da igualdade, que não se materializa nos outros 360 dias do ano. Nessa atmosfera de faz-de-conta, o usuário de drogas, morador dos condomínios de luxo dança ao lado do traficante - seu fornecedor - que mora na favela, a mesma de onde o primeiro saiu, quando ‘subiu na vida’. É complicado.   
Nos blocos, o favelado simples coloca uma máscara de super-heroi para viver a ilusão da super saúde, que não precisa de hospital ou veste um jaleco para mostrar que mesmo sem escola pode ser doutor, enquanto o cidadão do asfalto alimenta a ilusão de ser importante, vestindo uma camisa da seleção de futebol. Me engana que eu gosto é o enredo oficial desta sociedade.
Pelo que sei, o bebê é fruto de um amor consolidado, que resulta numa atividade sexual lícita e planejada. No carnaval, a mídia proclama dias de ‘pegação’, sexo livre, consagração dos desvios sexuais e de liberdade de orientação sexual.  A ilusão da irresponsabilidade sexual inconsequente é desfilada sob o som excitante dos tambores. A dignidade da mulher e da maternidade é substituída, na passarela, pela exaltação do corpo da prostituta devassa. As formas, a cobiça, a superficialidade, a materialidade são celebrados. A trabalhadora que faz faxina durante 8 horas preparando sua casa humilde para receber o bebê gerado com amor, sobrevive sem assistência médica, infraestrutura, transporte público decente e outros direitos humanos, enquanto a musa do carnaval é premiada com rios de dinheiro e aplausos por sua atuação oca e infrutífera. 
Lá fora o carnaval continua... No ar o som dos tambores, nas veias de milhões, o álcool, nas estradas os milhares de acidentes contabilizados, nos necrotérios as centenas de corpos resultado da ‘liberdade’ dos dias de carnaval e, a novidade do ano,  muitos homens e mulheres presos por praticarem ‘ato obsceno em local público’ pelos cantos da cidade...
‘A realidade das diaristas do Brasil  também é obscena. Devia ser exibida em local público’, comento, mas isso já é um tema para o próximo carnaval.   


[1] Infraestrutura do Brasil é reprovada em estudo

Comparado a outros 20 país, Brasil ocupa a 17ª posição no quesito qualidade geral da infraestrutura

A qualidade da infraestrutura brasileira é das piores no mundo, mesmo com a arrancada dos investimentos nos últimos quatro anos. Comparado a outros 20 países, com os quais concorre no mercado global, o Brasil ficou na 17ª colocação no quesito qualidade geral da infraestrutura, empatado com a Colômbia. Numa escala de 1 a 7, o país teve nota 3,4 - abaixo da média mundial, de 4,1.
As informações são de um estudo inédito da LCA Consultores, cuja fonte foi o relatório de competitividade 2009/2010 do Fórum Econômico Mundial, em Genebra, na Suíça. A avaliação é feita por empresários e especialistas de cada nação. No Brasil, 181 questionários foram respondidos. A má qualidade de estradas, portos, ferrovias e aeroportos brasileiros não chega a ser novidade. Mas faltava uma comparação internacional que desse uma noção mais clara de como o país está atrasado.
Cenário - A distância que separa o Brasil das primeiras posições é enorme. A França, que ocupa o topo da lista, teve nota 6,6, seguida de Alemanha (6,5) e dos Estados Unidos (5,9). Entre as outras nações que deixaram o país para trás estão o México, a China, a Turquia, a África do Sul e o Chile