DIREITO À BALADA
Quando os Bestie Boys lançaram “(You gotta) fight for your
right (to party)” não imaginaram que o Brasil levaria o desafio tão a sério.
Na luta pelos direitos humanos, os brasileiros conquistaram o
direito à balada e no mês de Outubro este direito foi exercido plenamente.
Nas duas primeiras semanas, um festival de rock e um cantor estrangeiro
tiraram milhares de jovens e adolescentes das escolas, sem que nem uma só voz
da sociedade se levantasse para questionar esse êxodo escolar. Pelo contrário,
pais e autoridades foram unânimes em apoiar publicamente o exercício deste
direito básico. O jovem tem que se divertir, foi o consenso geral.
Apesar de não estarem acostumados a estudar em tempo
integral, os jovens demonstraram grande disposição para enfrentar horas de
balada ininterrupta. Pela manhã, a televisão mostrava os baladeiros jogados no
chão dos aeroportos, como se as férias de verão já tivessem chegado.
Milhares deles
passaram noites inteiras de pé, ouvindo músicas sobre o direito à prática da
Californication, mesmo que os organizadores do festival tivessem vetado o
direito de levar guarda-chuva para se proteger dos rigores do clima no local descampado.
Do outro lado da cidade, milhares de meninas adolescentes e até
crianças de 8 anos, passaram horas na frente do hotel do cantor visitante e dias
acampadas na fila para entrar no estádio onde ele se apresentaria. As mães
sorridentes acamparam junto para garantir que as filhas desfrutassem do direito
inalienável à balada. Pela televisão, vi uma psiquiatra explicando como a
gritaria, o choro compulsivo e os atos de descontrole emocional dirigidos ao
cantor eram bons para as adolescentes. Nenhuma autoridade escolar ou repórter lembrou
que no dia seguinte tinha aula. Ficou claro que os que não foram estavam por
fora.
E, quase no final do mês, 800 adolescentes foram localizados
numa festa num bairro ermo e distante da cidade. Eles planejavam passar a noite
se drogando e consumindo as centenas de litros de bebidas alcoólicas encontradas
na casa, mas a polícia invadiu o local, que pertencia a um jogador de futebol e
checou a idade de cada um. Só saiu da casa quem o pai ou a mãe veio buscar. Mas
muitos pais argumentaram que os filhos só queriam se divertir.

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