Tuesday, October 18, 2011


DIREITO À BALADA

Quando os Bestie Boys lançaram “(You gotta) fight for your right (to party)” não imaginaram que o Brasil levaria o desafio tão a sério.  

Na luta pelos direitos humanos, os brasileiros conquistaram o direito à balada e no mês de Outubro este direito foi exercido plenamente.

Nas duas primeiras semanas, um festival de rock e um cantor estrangeiro tiraram milhares de jovens e adolescentes das escolas, sem que nem uma só voz da sociedade se levantasse para questionar esse êxodo escolar. Pelo contrário, pais e autoridades foram unânimes em apoiar publicamente o exercício deste direito básico. O jovem tem que se divertir, foi o consenso geral.

Apesar de não estarem acostumados a estudar em tempo integral, os jovens demonstraram grande disposição para enfrentar horas de balada ininterrupta. Pela manhã, a televisão mostrava os baladeiros jogados no chão dos aeroportos, como se as férias de verão já tivessem chegado. 

 Milhares deles passaram noites inteiras de pé, ouvindo músicas sobre o direito à prática da Californication, mesmo que os organizadores do festival tivessem vetado o direito de levar guarda-chuva para se proteger dos rigores do clima no local descampado.

Do outro lado da cidade, milhares de meninas adolescentes e até crianças de 8 anos, passaram horas na frente do hotel do cantor visitante e dias acampadas na fila para entrar no estádio onde ele se apresentaria. As mães sorridentes acamparam junto para garantir que as filhas desfrutassem do direito inalienável à balada. Pela televisão, vi uma psiquiatra explicando como a gritaria, o choro compulsivo e os atos de descontrole emocional dirigidos ao cantor eram bons para as adolescentes. Nenhuma autoridade escolar ou repórter lembrou que no dia seguinte tinha aula. Ficou claro que os que não foram estavam por fora.   

E, quase no final do mês, 800 adolescentes foram localizados numa festa num bairro ermo e distante da cidade. Eles planejavam passar a noite se drogando e consumindo as centenas de litros de bebidas alcoólicas encontradas na casa, mas a polícia invadiu o local, que pertencia a um jogador de futebol e checou a idade de cada um. Só saiu da casa quem o pai ou a mãe veio buscar. Mas muitos pais argumentaram que os filhos só queriam se divertir.     

Nos países onde a escola é o centro da vida dos adolescentes e jovens, existe a expressão “School Night”. É a noite que antecede o dia em que o aluno deverá ter aula. Ele não vai ao cinema naquela noite porque é uma “School Night”. Os pais e as autoridades sabem que para que haja um bom rendimento escolar na manhã seguinte, a preparação tem que começar na noite anterior. Por isso, os sites que vendem ingressos para shows das mesmas bandas que tocaram por aqui, vendem entradas para shows que naqueles países começam entre 7 e 8 horas da noite e não de madrugada nem duram até as cinco da manhã. 

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