A vida em sociedade tem seus rituais e normas de
convivência.
É comum ouvir alguém dizer no meio de uma conversa, que
fulano “sabe entrar e sabe sair”. O
indivíduo pode não ter educação formal, mas consegue entrar e sair dos ambientes
sem problemas, porque sabe como se conduzir.
Na abertura dos Jogos Pan-americanos assisti a repetição de
uma cena que vi nas Olimpíadas de Atenas. O repórter que narrava a entrada das
delegações no estádio não sabia como descrever o comportamento dos atletas
brasileiros que insistiam em pular, dançar e brincar de roda enquanto as
delegações dos outros países desfilavam. Pura demonstração de que aqueles jovens
“não sabem entrar”.

Em Atenas, no ginásio redondo onde aconteciam as partidas de
vôlei, eu olhava ao redor e via todo mundo sentado torcendo, com exceção de um
ponto da arquibancada onde sempre havia uma embolação de gente que não sentava
de modo nenhum e gritava e cantava o tempo todo. Os torcedores que compraram
ingresso para sentar acima do grupo não podiam ver nada. O grupo cantava “Eu sou
brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Quando um atleta dava um passe
bonito seja de qual time fosse, as pessoas aplaudiam. Os brasileiros só
aplaudiam o seu time e vaiavam os adversários. Mostravam que “não sabiam entrar
nem sair”.
Saber torcer, cumprimentar, conduzir uma conversa, usar o
traje apropriado, se comportar num transporte público, numa mesa são algumas das
situações simples onde o indivíduo mostra sua capacidade de se inserir no
contexto.
Ainda no Pan, na competição de Tae kwon do, a árbitra teve
que mandar a lutadora Rafaela retirar o capacete no final da luta para receber o
resultado e cumprimentar a oponente. Na natação, o nadador brasileiro nadou com
a touca errada e quase perdeu a medalha de ouro conquistada.
O chapéu é um acessório difícil para o brasileiro. Criado
para proteger do sol, no Brasil deveria ser amplamente usado, mas não é o que se
vê. Nos países frios, a primeira coisa que o indivíduo aprende é usar a
vestimenta correta para proteger o corpo. Na Áustria, o primeiro marco do
aprendizado da minha filha no jardim de infância foi aprender a amarrar o
cadarço da bota. Depois ela aprendeu a comer numa mesa de restaurante, a fazer
silêncio num concerto, a dizer obrigado e a pedir licença.
Na Áustria, se o indivíduo não “sabe entrar nem sair” ele
sofre as conseqüências e acaba pressionado pela sociedade até aprender. No
Brasil, o resultado mais grave desta inabilidade aparece no trânsito com 60 mil
mortes e 400 mil mutilados. O brasileiro tem carro, mas não sabe se conduzir no
trânsito. Ele faz fila dupla, anda pelo acostamento, para na faixa, não dá a vez
aos pedestres e continua mostrando que não “sabe entrar nem sair”.